quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Temor de racionamento cresce com previsão de pouca chuva

21/01/2015 - Valor Econômico

 O volume de chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste neste verão está abaixo do necessário previsto no ano passado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para garantir o suprimento de energia em 2015. E, segundo o instituto de meteorologia Climatempo, a expectativa para os primeiros quatro meses do ano é de chuvas abaixo da média. Nesse cenário, diante de estimativas das consultorias PSR e Thymos, aumenta a probabilidade de necessidade de um racionamento.

Em apresentação, em seminário, em julho do ano passado, no Rio de Janeiro, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, havia dito que seria necessário um volume de energia natural afluente (ENA) - que pode ser produzido a partir das chuvas - de 77% da média histórica entre novembro e abril, no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, para garantir totalmente o suprimento de energia em 2015.

As projeções do operador partiam de um nível de armazenamento de 18,5% da capacidade dos reservatórios hidrelétricos das duas regiões em novembro. Considerando uma média de chuvas de 77% entre novembro e abril (o período chuvoso), os reservatórios chegariam ao fim de abril com 45%. Esse patamar, segundo Chipp, seria suficiente para garantir o abastecimento em 2015, mesmo que ocorresse o pior histórico de chuvas no período seco de 2015 (de abril a novembro). A média de 77% seria a 11ª pior da série histórica de 83 anos utilizada pelo ONS.

De acordo com dados oficiais do operador, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, principal "caixa d'água" do sistema elétrico brasileiro e que concentra 70% da capacidade de armazenamento de água para geração de energia do país, chegaram a novembro do ano passado com 18,6%.

Em novembro, a média de chuvas no Sudeste/Centro-Oeste foi de 68,33% do histórico. Em dezembro, houve uma melhora, e a ENA nas duas regiões alcançou 84,41% do histórico. Em janeiro, mês em que as chuvas costumam ser mais volumosas, porém, a projeção atual de ENA do operador é de apenas 44% do histórico. Nem mesmo o teto da previsão, de 49%, seria suficiente para trazer alívio ao sistema. Considerando as médias de novembro, dezembro e a previsão de janeiro, a média é de 62% do histórico.

Para melhorar o quadro do abastecimento, é importante que o volume de chuvas em fevereiro venha acima do histórico. No ano passado, a média de chuvas em fevereiro foi de apenas 38,22%, a pior mensal registrada em 2014.

Segundo a meteorologista Bianca Lobo, do Climatempo, porém, o volume de chuvas de todos os quatro primeiros meses do ano ficará abaixo da média. "No fim de janeiro, haverá chuvas generalizadas nas regiões dos reservatórios do Sudeste. Vai dar uma melhorada, mas não vai ser suficiente para atingir a média histórica. Este ano, não vamos conseguir recuperar os reservatórios. Vai ser um ano ruim para geração de energia", disse ela.

Para o diretor da comercializadora Enecel Energia, Raimundo Batista, também é muito pouco provável que haja uma recuperação do nível dos reservatórios neste ano. "A única alternativa para evitar um colapso no sistema será gerenciar a demanda. É o consumidor que terá que exercer o seu papel, por patriotismo ou por imposição de regras que estimule a redução do consumo", disse o especialista.

A consultoria Thymos Energia mantém a expectativa de risco de racionamento em 40%. A projeção considera a possibilidade de os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste chegarem ao fim de abril com menos de 30% da capacidade, nível mínimo admitido pelo ONS para o fim do período chuvoso, sem comprometer o abastecimento do país. Mario Veiga, presidente da PSR, diz que até o fim do período chuvoso, em abril, devem ocorrer mais blecautes controlados como o da última segunda-feira. A partir de maio e junho, caso as chuvas fiquem abaixo do estimado, há, segundo ele, grandes chances de ser necessário o racionamento para garantir o suprimento de energia até o início da próxima estação chuvosa, em novembro.

Apesar do quadro crítico, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, reforçou ontem que o sistema elétrico é "robusto". E reafirmou que não há necessidade de um racionamento este ano.

Na primeira reunião do ano, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que reúne a cúpula energética do governo Dilma, estimou o risco de déficit de energia em 4,9% para o Sudeste/Centro-Oeste. O nível de 5% é considerado crítico.

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